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‘Preciso fingir que não sou gay’, diz agricultor sobre trabalho no campo

“Sentia muita culpa. Quase entrei em depressão, não sabia como contar a verdade. Vivi no mato, isolado com a minha família, desde criança. Não tinha referências”, relembra Jorge Eurípides, agricultor que hoje, uma década depois de ter se assumido gay, virou exemplo na internet para jovens do campo que, assim como ele, temem a retaliação.

Em Conceição das Alagoas, em Minas Gerais, onde cresceu e vive até hoje, a palavra “homossexualidade” só aparecia em contextos pejorativos, piadas e alfinetadas de amigos e familiares. Aos 26 anos, quando Eurípides decidiu compartilhar com a família, foi expulso de casa. “Está relacionado à tradição. Crescemos ouvindo que precisamos seguir as regras do agro. Ser o macho bruto, fumante, que gosta de mulher”, diz.

Passaram-se alguns anos até que os pais o aceitaram de volta — com a condição de não trazer namorados para casa. Dentro do possível, a família vive em harmonia, e a sexualidade já não é uma questão para Jorge, mas continua sendo para alguns companheiros de trabalho.

“No campo, a gente lida com os ‘machos brutos’ e, não vou mentir, por segurança, tenho que fingir que não sou gay quando não conheço a pessoa. Esse ramo do agro é muito preconceituoso. Já sofri muita violência verbal, machuca. E isso porque não sou afeminado, nem nas roupas, nem nas fala, o que também é uma forma de me proteger das agressões”.

O agricultor, de 33 anos, que acumula mais de 30 mil seguidores nas redes, recebe diariamente mensagens de outros colegas de profissão que se sentem abraçados por seu conteúdo na internet. “O campo é muito vasto, cheio de pessoas, mas a gente se sente sozinho.”

Conheça as iniciativas

No mundo corporativo do agronegócio, o cenário é parecido. Carolina Magnabosco, headhunter que presta serviços de recrutamento para empresas do setor, percebe o receio dos candidatos. A maioria não se sente confortável para falar sobre a sua sexualidade durante as entrevistas de emprego.

“São muitos problemas e preconceitos envolvidos. Já ouvi reclamações de clientes do agro sobre o corpo, a orientação sexual e até trejeitos de candidatos qualificados. O setor precisa passar por uma transformação.”

Foi com esse ideal que Carolina decidiu abrir, em parceria com um colega de trabalho, sua própria consultoria, a Glue HR Solutions. “Nossa ideia era criar uma empresa de recrutamento para fazer diferente. Quero apresentar bons candidatos, independentemente das características físicas ou sexualidade”, relata. “E o cliente precisa respeitar isso.”

Enquanto algumas empresas preferem se afastar das discussões sobre inclusão, outras decidem não só abraçar a diversidade do quadro de funcionários como usam o espaço corporativo como um pilar de transformação social.

Na visão de Claudia Pohlmann, diretora de recursos humanos da Corteva, quanto mais representada a sociedade está dentro da empresa, mais criativo e produtivo será o trabalho. “Se todos pensam igual, a coisa fica entediante. As pessoas querem trabalhar em ambientes onde elas se sintam seguras e livres para se expressar. Essa é a chave para desenvolver o sentimento de pertencimento”, defende.

Para colocar a estratégia em prática, a empresa americana de agroquímicos e sementes precisou atualizar suas políticas internas e criar novas, como o direito a licença parental independentemente do sexo do cônjuge, programa de estágio afirmativo para minorias e grupos de afinidades que propõem debates internos.

“No Brasil, temos quatro: o Gaha, com foco em igualdade racial, o Win, para mulheres, Dawn, para pessoas com deficiência, e o Pride, que tem como foco o público LGBTQIA+. Todos os colaboradores são convidados a participar das reuniões. Os grupos têm autonomia para pensar em estratégias para promover um ambiente de respeito.”

Em 2023, das 50 empresas do Great Place to Work Agronegócios (GPTW), premiação que elege as melhores companhias para trabalhar no setor, apenas oito têm programas específicos voltados à contratação e inclusão de minorias — quatro da categoria “grandes” e quatro “médias”. Entre as pequenas, nenhuma possui iniciativas na área.

Na SLC Agrícola, produtora de commodities que ocupou o 12° lugar no ranking de grandes empresas, o foco da inclusão está no desenvolvimento dos colaboradores, com oficinas de capacitação específicas para mulheres e pessoas com deficiência.

Para garantir um ambiente diverso e uma escuta ativa, a companhia possui um código de ética e conduta, uma área de compliance e um canal de denúncias. A SLC tem ainda um Comitê ESG, que assessora o conselho de administração na definição de políticas, estratégias, investimentos e ações internas.

“Temos consciência do tamanho do desafio para a inclusão e nos comprometemos a continuar impulsionando a agenda internamente, a fim de garantir que nosso time espelhe a diversidade do nosso país”, garante Juliana Vencato, gerente de gestão de pessoas e comunicação da empresa.

Contra a LGBTQIA+fobia no campo

As iniciativas não são exclusivas do mundo corporativo. Um exemplo recente foi desenvolvido pelo Movimento Sem Terra (MST): a Campanha Permanente Contra a LGBTI+fobia no Campo. Flávia Tereza, da direção nacional do movimento, explica que o objetivo da ação é criar um ambiente seguro para os trabalhadores do campo.

“Realizamos o mapeamento dos sujeitos LGBTQIAP+ e, graças aos parceiros do MST, rodamos cinco regiões do Brasil promovendo formação e debates sexuais e de gênero. Falamos sobre corpo, saúde, transexualidade, saúde mental e explicamos o que é a homofobia”, diz.

Outro dos pilares do projeto é o diálogo e a conscientização das famílias e das escolas. “É um dos nossos principais desafios, porque ainda existe preconceito”, afirma ela. “Muitos filhos saem de casa e se afastam da educação por não se sentirem acolhidos. Queremos mostrar que nossa forma de amar e viver em sociedade não é diferente.”

Globo Rural

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